Por:  Dra. Ruth Reisman

Audição: últimas notícias

Sangramento no ouvido: a perspectiva dos profissionais de saúde auditiva

O sangramento no ouvido pode ocorrer por diversas razões e, em alguns casos, pode ser bastante alarmante quando identificado pela primeira vez. Como uma profissional de saúde auditiva que trabalha em um hospital agitado com mais de 25 otorrinos contratados em período integral, já tive minha cota de sangramento no ouvido. Ainda lembro da primeira vez que precisei fazer uma pré-moldagem profunda para um implante de orelha média que deixou o canal auditivo do paciente sangrando profusamente. Estava preocupada em ter prejudicado ainda mais a orelha dessa pobre mulher que já sofria de uma perda auditiva severa. Quando fui informada pelo otologista que o molde havia causado apenas um arranhão no canal auditivo, me assustei com a quantidade de sangue produzido apenas por um pequeno arranho.

A verdade é que a pele no canal auditivo é uma camada fina e altamente vascular de epidermes que é bastante sensível e sangra facilmente mesmo por causa do corte mais inofensivo na orelha. Após aquela ocasião, percebi que o sangramento no ouvido devido a remoção de cera, otoscopia, irrigação da orelha durante uma VNG calórica ou realização de uma pré-moldagem é bastante comum; e o sangramento no ouvido para tão rápido quanto começa. Isto ajudou a construir a minha imunidade contra o temível sangramento comum do ouvido e focar em atender os pacientes e às suas necessidades auditivas, cuidando para não causar ainda mais problemas e tomando as devidas precauções caso o ouvido sangrasse.

Causas comuns de sangramento no ouvido

Além de manipular a orelha para procedimentos médicos e audiológicos, as causas mais comuns de sangramento no ouvido são arranhões traumáticos na orelha, causados por itens domésticos comuns como Q-tips ou palitos de dente, ou tímpanos perfurados devido a infecções crônicas ou traumatismo no ouvido. Em meus 14 anos de atuação, testemunhei alguns casos extremos de traumatismo no ouvido e perfurações na membrana timpânica causados por traumas além de infecções graves no ouvido.  Alguns casos ocorreram devido ao barotrauma causado por mergulhos ou voos, ou por outros traumatismos, tais como inserção de agulhas na orelha, perfurações de Q-tips ou palitos de dente e até mesmo um tapa forte na orelha de um paciente transtornado na ala psiquiátrica. Geralmente, os pacientes não percebem o quão sensíveis e preciosas são as suas orelhas até que algo dê errado...

Outras causas de sangramento no ouvido:

As causas mais alarmantes de sangramento no ouvido são cânceres do canal auditivo ou da orelha média, ou grave traumatismo craniano. O traumatismo craniano que causa sangramento no ouvido pode ser indicação de uma fratura do osso temporal que pode ser neurologicamente prejudicial ou até mesmo fatal. Em uma pesquisa sobre sangramento grave no ouvido realizada por Kin e Shin (2018), as principais causas de hemorragia grave no ouvido foram devido a contusão cerebral, barotrauma e epistaxe, também conhecida como hemorragia nasal severa.

Duband et. al (2009) também relataram o sangramento grave no ouvido após casos de estrangulamento. Quando li esse artigo pela primeira vez, pensei que se o participante tivesse sido estrangulado, eles teriam problemas maiores do que sangramento no ouvido. Mais tarde, conheci meu namorado, que é um ávido lutador de Muy Thai/MMA, e presenciei algumas lutas "vale-tudo" nas quais os lutadores que eram mantidos na posição de estrangulamento por um longo período acabavam tendo sangramento no ouvido – uma consequência que o esporte pode não ter levado em consideração. Já havia me acostumado à orelha de couve-flor que sempre irá distinguir um lutador entre um oceano de pacientes, mas nunca pensei no sangramento de ouvido como um sinal revelador de um lutador de artes marciais. 

As implicações do sangramento no ouvido na audição

Pacientes com sangramento no ouvido ou hemorragia podem apresentar outros sintomas otológicos, incluindo dor de ouvido, zumbido, [tontura] ou bloqueio auditivo. (Kim e Shin, 2018). No entanto, os resultados audiométricos irão variar desde a ausência de perda auditiva até uma leve perda auditiva condutiva em uma ou ambas as orelhas.

Quando procurar ajuda médica

Qualquer sangramento no ouvido justificará uma consulta ao médico, especialmente se houver um trauma grave ou uma degradação na audição. Sabe-se que uma mudança repentina na audição ou no equilíbrio é uma emergência auditiva que requer uma visita à sala de emergências, ao centro de atendimento de urgência ou um especialista em otorrino. Deixar o sangramento no ouvido sem acompanhamento pode levar a futuros riscos de infecções ou a danos na orelha.

Tratamento para sangramento no ouvido

Embora a maioria dos sangramentos no ouvido derivados de trauma se resolvam e se curem sozinhos dentro de um mês, há momentos em que é necessário uma intervenção médica (Kim e Shin, 2018). Os médicos podem fornecer gotas antibióticas para perfurações no canal auditivo a fim de reduzir o risco de infecção e de acelerar a cicatrização. Os coagulantes e as terapias de coagulação sanguíneas podem ser indicadas em casos de ocorrência de hemorragia devido ao traumatismo craniano ou doenças sanguíneas. Em alguns casos em que o trauma é grave, uma intervenção cirúrgica poderá ser necessária para remendar um tímpano ou estancar uma hemorragia ou um vazamento líquido espinhal após um traumatismo craniano.

Conclusões

Existem vários motivos para o sangramento no ouvido; alguns podem ser inofensivos e outros podem ser gravemente fatais. É importante procurar por uma avaliação profissional quando perceber qualquer forma de sangramento no ouvido, especialmente se vier acompanhada de outros sintomas como dor de ouvido, perda auditiva, zumbido, tonturas, traumas etc. Ao considerar um aparelho auditivo ou qualquer peça auditiva de ajuste profundo, é melhor procurar uma avaliação médica para garantir que não há contraindicações em ter um dispositivo na orelha. Sabendo a rapidez com que a orelha pode sangrar, desde o menor arranhão e as possíveis consequências, o melhor é não arriscar. 

Citações:
1.    Duband, Sébastien MD*†; Timoshenko, Andréi P. MD‡§; Morrison, Alan L. MD*; Prades, Jean-Michel MD, PhD‡§; Debout, Michel MD, PhD†; Peoc'h, Michel MD, PhD*† Ear Bleeding, The American Journal of Forensic Medicine and Pathology: Janeiro de 2009 – volume 30 – edição 2 – pág. 175-176

2.    Kim, CH., Shin, J.E. Hemorrhage within the tympanic membrane without perforation. J of Otolaryngol - Head & Neck Surg 47, 66 (2018). https://doi.org/10.1186/s40463-018-0300-0

 
 
Sobre
 
A Dra. Reisman é uma audiologista e profissional de saúde auditiva licenciada em Nova Iorque. Ela possui um certificado na Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição e é membro da Academia Americana de Audiologia. Atualmente, a Dra. Reisman dirige o departamento de audiologia da Northwell Health’s Physician Partners em Lenox Hill e é professora associada na CUNY Graduate Center. Foi reconhecida como a primeira audiologista a ajustar com sucesso o primeiro implante de orelha média na área dos três estados e a primeira no país a ajustar com sucesso um aparelho auditivo de condução óssea com o sistema de implante de atração magnética. Ela tem ampla experiência na avaliação e reabilitação de distúrbios auditivos e de equilíbrio. A pesquisa e os métodos da Dra. Reisman sobre a avaliação e o tratamento de distúrbios auditivos em alguns dos casos mais desafiadores foram premiados e reconhecidos no campo da Audiologia. Por meio do uso de métodos e tecnologias mais recentes em reabilitação auditiva atualmente disponíveis, a Dra. Reisman é capaz de melhorar significativamente as habilidades de comunicação e a qualidade de vida da população com deficiência auditiva. Ela se dedica a ampliar a conscientização sobre a preservação e melhoria da saúde auditiva e do equilíbrio.
As informações contidas neste artigo se destinam somente para fins educacionais e informativos. Você não deverá usar as informações como alternativa ou substituto ao conselho médico profissional. Em caso de dúvidas sobre a sua saúde, sempre consulte um médico ou outro profissional de saúde auditiva.