Por:  Dra. Ruth Reismn

Por que fazer um teste auditivo em um recém-nascido?

Está comprovado que existe uma idade crucial para o desenvolvimento da fala e da linguagem em crianças de 0 a 5 anos. Se os marcos significativos da linguagem não forem atingidos durante tal período, a criança corre o risco de deficiência linguística, desenvolvimento social atípico e futuras dificuldades de aprendizagem (Shearer el at, 2019). A incapacidade de ouvir da criança, seja permanente ou transitória, causará o envio de estímulos linguísticos inconsistentes ao cérebro que irão restringir sua capacidade de fortalecer as vias neurais corretas para o desenvolvimento normal da linguagem.

Portanto, realizar análises auditivas em recém-nascidos se tornou parte de um protocolo de triagem amplamente aceito no atendimento ao recém-nascido. Leis foram aprovadas em 43 estados, exigindo a realização da audiometria infantil nos berçários. Recomenda-se que as crianças sejam examinadas até completarem um mês para saber se sofrem de perda auditiva, diagnosticadas até três meses e recebam uma intervenção até seis meses para obter resultados ideais. Devido aos regulamentos envolvendo a triagem auditiva neonatal, pesquisas mostram que 98,2% dos recém-nascidos passam por uma audiometria.

Como testamos os recém-nascidos?

Os bebês não podem responder aos testes auditivos como os adultos fazem usando fones, portanto, a mensurações objetivas de audição foram desenvolvidas para avaliar o sistema auditivo dos recém-nascidos. Uma análise sistemática dos protocolos hospitalares de triagem auditiva neonatal constatou que há uma falta de coerência entre os protocolos de testes de um local para outro (Kanji et al, 2018). Contudo, a maioria dos programas utilizam exames de emissões otoacústicas transientes (EOA), exames de potencial evocado auditivo de tronco encefálico ou alguma combinação dos dois.

O que esses testes significam e o que nos dizem?

As emissões otoacústicas são avaliações psicológicas da orelha interna. Durante esse teste, os ecos do órgão sensorial auditivo são monitorados para determinar a função coclear. Esse teste auxilia no diagnóstico de graus e tipos de perda auditiva e é especialmente útil na avaliação da perda auditiva em populações difíceis de testar, como os recém-nascidos. Constata-se que as EOAET são mais sensíveis ao descartar até uma deficiência auditiva leve em comparação com as EOAPD que podem possivelmente deixar passar até uma perda auditiva moderada. O potencial evocado auditivo de tronco encefálico, por outro lado, é uma avaliação psicológica do nervo auditivo e das estruturas auditivas no tronco cerebral. O teste de potencial evocado auditivo de tronco encefálico pode auxiliar no diagnóstico diferencial de cistos ou tumores na via neural auditiva ou dentro dela. Ele também é usado para calcular os níveis de audição em pacientes difíceis de testar ou não fiáveis. Os potenciais das vias auditivas são monitorados por meio de eletrodos colocados na pele e nas orelhas para que, com isso, possamos descartar até a perda auditiva leve em recém-nascidos.

O que acontece se um recém-nascido reprova na audiometria?

Se o recém-nascido não passar na audiometria na primeira tentativa, normalmente precisará:
  1. Refazer a audiometria antes de dar alta. O hospital usará o mesmo método de exame ou um método de exame alternativo para saber se obterá um resultado diferente. 
  2. Aconselhar. Se o bebê continuar reprovando antes de receber alta, a equipe irá aconselhar os pais sobre o que significa reprovar na audiometria. Muitas vezes, os recém-nascidos reprovam porque têm fluidos residuais do parto em seu canal auditivo. Os pais são assegurados de que isso é comum, mas são altamente encorajados a fazerem um acompanhamento para descartar a perda auditiva permanente.
  3. Encaminhar. Os pais são encaminhados para audiologistas ou pediatras a fim de ser refeita a audiometria dentro de um mês após a alta.
  4. Acompanhamento Espera-se que os pais continuem atentos aos cuidados posteriores da audição dos seus bebês.
  5. Relatar Os hospitais e as instalações de triagem neonatal devem relatar os resultados ao estado em uma tentativa de monitorar os recém-nascidos que reprovaram e necessitam de cuidados auditivos de acompanhamento.

O que acontece se o meu bebê continuar a reprovar no teste auditivo?

Examinar os recém-nascidos é extremamente gratificante, especialmente quando podemos dar notícias tranquilizadoras aos novos pais preocupados com que seus bebês passem na audiometria e que, com o monitoramento regular, tudo dará certo. Mas o que acontece se o bebê não passar? Aconselhar os pais sobre a reprovação na audiometria é um dos aspectos mais desafiadores em meu trabalho como profissional de saúde auditiva. Apesar de tranquilizar os pais de que as coisas irão dar certo, posso ver o medo aumentar em seus olhos com a novidade de outro teste reprovado. Agora, precisam retornar dentro de duas a quatro semanas para fazer tudo isso novamente e, se o bebê for reprovado, precisará de uma avaliação auditiva completa.

Como é um exame completo?

Os bebês não conseguem fornecer respostas subjetivas como as crianças mais velhas ou os adultos, portanto, é preciso utilizar mensurações objetivas. Os dois métodos usados para medir a audição dos bebês são o teste do potencial evocado auditivo de tronco encefálico e o teste de resposta auditiva de estado estável (RAEE), o qual avalia, simultaneamente, os limiares auditivos a 0,5, 1,2 e 4 kHz. Essas avaliações são mensurações objetivas do nervo auditivo que serão traduzidas em limiares auditivos em um audiograma.

Quais são as causas da perda auditiva em recém-nascidos?

Existem diversas causas da perda auditiva em recém-nascidos que variam de grau, configuração e etiologia.  As causas mais comuns de perda auditiva em recém-nascidos são o fluido no canal auditivo, que é geralmente transitório, ou as perdas auditivas genéticas, que normalmente são permanentes. Outras causas incluem perda auditiva derivada de doença materna ou ingestão de substâncias durante a gravidez que eram inadvertidamente ototóxicas. A maioria das mães desconhece que a automedicação pode representar riscos ao feto (Jato et al, 2018).

O que pode ser feito? O que os responsáveis devem saber.

A intervenção precoce é crucial nos cuidados de recém-nascidos com perda auditiva. Seguir o manual de nova audiometria em um mês, obter o diagnóstico em três meses e intervir em seis meses dará à criança uma melhor chance no desenvolvimento normal da fala, da linguagem e do comportamento. Há momentos em que a perda auditiva pode ser tratada com medicamentos ou cirurgia e há outros em que a criança precisará de dispositivos auditivos e terapia da fala para garantir sucesso. Existem muitos recursos para pais de crianças com perda auditiva, inclusive grupos de apoio e serviços pagos sob o Programa de intervenção precoce. Os pais devem solicitar ao pediatra ou profissional de saúde auditiva um encaminhamento para o prestador local de serviços de intervenção precoce.

O que os profissionais devem saber

Diagnosticar um recém-nascido com perda auditiva pode ser desafiador, principalmente ao lidar com as emoções dos pais:
  1. Susto
    • Raiva, pânico, perda
  2. Percepção
    • Compreensão de que a situação não pode ser alterada
    • Gera ansiedade, falta de sono, depressão, falta de cumprimento das recomendações
  3. Afastamento
    • Desejo de fugir da situação
    • Não cumprimento dos objetivos terapêuticos
  4. Reconhecimento
    • Aceitação de que a deficiência existe
    • Normalmente é visto como uma punição religiosa (negativa) ou como um desafio a ser superado (positivo)
  5. Culpa
    • Os pais podem se sentir responsáveis pela deficiência
    • Leva ao amor excessivo/superproteção
    • Desistência 

Qual é o objetivo?

O objetivo é fazer com que a família processe as emoções para que seus filhos recebam os serviços com atraso mínimo devido à idade crucial para o desenvolvimento da fala e da linguagem. Fornecer apoio, recursos e informações aos pais os ajudará a processarem suas emoções e obterem os cuidados que seus filhos e seu recém-nascido irão precisar.
Referências
 
Mercy E. Jatto1 , Segun A. Ogunkeyede1, 2, Adebolajo A. Adeyemo,1, 3 Kazeem Adeagbo1 and Orinami Saiki1 Ghana. Mothers’ perspectives of newborn hearing screening programme. Med J 2018; 52(3): 158-162 doi: http://dx.doi.org/10.4314/gmj.v52i3.9
 
Amisha Kanji, Katijah Khoza-Shangase, Nomfundo Monroe,
Newborn hearing screening protocols and their outcomes: A systematic review,
International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology, Volume 115, 2018, Pages 104-109, ISSN 0165-5876, https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2018.09.026.

Shearer, A.E., Shen, J., Amr, S. et al. A proposal for comprehensive newborn hearing screening to improve identification of deaf and hard-of-hearing children. Genet Med 21, 2614–2630 (2019). https://doi.org/10.1038/s41436-019-0563-5
As informações contidas neste artigo se destinam somente para fins educacionais e informativos. Você não deverá usar as informações como alternativa ou substituto ao conselho médico profissional. Em caso de dúvidas sobre a sua saúde, sempre consulte um médico ou outro profissional de saúde auditiva.